sexta-feira, 27 de março de 2015

A Rita tem 6 anos, 7 para o calor do verão.

Começa a ler e escrever e tinha, para a escola, de levar uma história com um boneco que gosta muito: o Orelhas.
O Orelhas é um amigo de longa data, muito fofo, que lhe faz muita falta nos momentos mais tristes.
Tristes? Menos contentes.
Pediu ao Avô. E o Avô começou a fazer perguntas:
 - Ouve lá Rita, se o Orelhas estivesse ali longe, na relva como  distinguias?
 - Porque é azul.
 - Azul como o quê?
 - Como a tua camisola...
 - E mais?
 - Como o mar...o céu.
 - E mais?
 - Os Miosótis.
 - E é mesmo da cor dos Miosótis. Sabes  que quer dizer Miosótis?
 - Não me esqueças.
 - Então é mesmo essa cor do Orelhas.Não o queres esquecer pois não?
 - Não, que o tenho desde que sou pequena.
 - Pequena? Pequena é uma colher de café, que não cresce. Tu creces. De bébé     a menina. De menina a rapariga. De rapariga a mulher.
 - Então menina!
 - E o que é que o Orelhas tem de mais característico? ( a Rita tem muito bom vocabulário)
 - As orelhas compridas...
 - E no nosso corpo o que é assim mais comprido?
 - Os braços... que abraçam...
 - Então...

Assim se foram escolhendo palavras e ideias.
Pequenino para caber no coração. Conforto para fofo e mimo...
depois foi só coser as palavras.

 - Mas não rima!
O avô contou-lhe as sílabas, trauteou músicas, disse-lhe do ritmo.
 - Pois assim tem "ritimo"...
E a rita tinha feito o seu primeiro poema:

Desde muito menina meu amigo
azul quase do céu, ou miosótis
para nunca esquecer o teu conforto.
Fui crescendo, ficaste pequenino
a caber no coração, para sempre e sempre
orelhas como braços a abraçar-me

Seja o primeiro a comentar